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A dona Deolinda, que tinha muitos anos, cabelos brancos e vestia uma bata branca, era a única professora da escola da Pontinha da Lua. Ela ficou muito feliz por nos ver. A minha avó, que era muito despachada, disse-lhe: - Senhora professora, entrego-lhe o meu neto Júlio, que quer ser um aluno muito atento e educado. É um rapaz com muita imaginação. Faça favor de o ensinar. Larguei a mão da minha avó, entrei muito apressado na sala carregando a pasta escolar e o saco da merenda, e fui sentar-me numa carteira ao lado de um colega, que eu não conhecia. Reparei que ele já não tinha dois dentes e também estava muito aflito. A professora fechou a porta, e o calor das mãos pequeninas da minha avó começou a fazer- me imensa falta. Tirei da minha pasta escolar um lápis comprido, muito bem afiado, uma borracha, um afia- lápis azul, cadernos, o livro de leitura do primeiro ano e uma caixa com doze lápis de cor. Tudo novo, tudo tão lindo. – Isto é tudo meu! - disse eu, já esquecido do calor das mãos da minha avó Rosa. – Mostra as tuas coisas! – pedi ao meu colega de carteira que nunca tinha visto. Um fiozinho de voz respondeu: - Não tenho lápis de cor... mas hei de ter qualquer dia. Reparei que ele estava um bocado triste por não ter doze lápis iguais aos meus, novinhos, todos afiados, tão bonitos. Respondi-lhe: – Eu empresto-te os meus. De que cor é que gostas mais? – Eu gosto de azul, que é a cor do céu. E eu gosto muito do céu. – Eu gosto de amarelo, que é a cor do mel. E eu gosto muito de mel. A professora interrompeu-nos a conversa, e marcou-nos uma tarefa de muita responsabilidade: pegar no lápis preto e encher uma folha do caderno novo com bolinhas. Fiquei muito triste por não poder fazer bolinhas de muitas cores, e cansei-me muito depressa, porque era a primeira vez na minha vida que eu escrevia as coisas importantes da escola. Pus-me a olhar a toda a volta. E descobri muitas coisas. Descobri que a sala tinha um armário misterioso com as portas fechadas, dois quadros pretos, um apagador e pedacinhos de giz branco. Descobri que estava uma teia de aranha num canto do teto, e dentro da teia estavam três moscas mortas. Descobri que havia rapazes e raparigas muito grandes dentro daquela sala tão cheia e tão silenciosa. Descobri que as paredes da sala estavam enfeitadas com letras, algarismos e mapas. Descobri que a professora Deolinda cheirava a perfume, tinha muita laca no cabelo e dois anéis num dedo. Descobri duas formigas minúsculas nas frinchas do soalho. Descobri que o meu colega de carteira estava sempre a meter a mão no bolso das calças e a mexer num objeto que lá tinha escondido. - O que tens aí? – perguntei, intrigado. - Não posso dizer, é segredo. – Se não disseres, eu nunca mais te empresto os meus lápis de cor. - E eu não me importo. - Diz lá! - Não posso!