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Três características definem, segundo nos parece, essa imitação vocal nascente, próprias da segunda fase: em primeiro lugar, há contágio vocal nítido a partir do momento em que o sujeito se torna capaz de reações circulares relativas à fonação. Por outras palavras, a voz de outrem excita a voz da criança, quer se trate de choro ou de quaisquer outros sons. No primeiro caso, o contágio é quase automático, dada, sem dúvida, a emoção concomitante do gesto vocal. No segundo, pelo contrário, o contágio está sujeito a duas espécies de condições restritivas. Para excitar a voz do bebê, a voz de outrem deve, por um lado, reproduzir certos sons familiares, já emitidos pela criança, ou certas entonações etc., sem que o sujeito se restrinja por isso a imitar esses mesmos sons em todas as suas particularidades. Por outro lado, é preciso que a criança se interesse pelos sons ouvidos; logo, o contágio nada tem de automático, mas apresenta-se, outrossim, como uma espécie de reação circular com suas características de espontaneidade. Em resumo, o contágio vocal nada mais é do que uma excitação da voz da criança pelo voz de outrem, sem imitação precisa dos sons escutados. Em segundo lugar, há imitação mútua, com um arremedo de imitação precisa, quando o experimentador imita a criança no momento em que esta se entrega à repetição de tal ou tal som determinado; nesse caso, o sujeito redobra de esforços e, excitado pela voz de outrem, imita por sua vez o som imitado pelo seu parceiro. É evidente que, em tal caso (por exemplo, T. repetindo la e le aos 0;2 (11), após ter emitido esses sons espontaneamente, no início da experiência), a imitação só é precisa na medida em que o experimentador imita a própria criança; portanto, esta não faz esforço para adaptar-se ao som ouvido mas, simplesmente, para conservar aquele que emitira momentos antes e a imitação prolonga diretamente a reação circular. Em terceiro lugar, acontece esporadicamente a criança imitar com relativa precisão um som conhecido (isto é, um som que ela já descobriu espontaneamente), sem que o tivesse emitido logo antes. Por exemplo, T., aos 0;2 (17), imita o som arrr sem exercício prévio e faz esforço para adaptar-se-lhe. Mas, durante essa fase, um tal comportamento é muito excepcional e episódico. A fortiori, a criança dessa fase jamais procura imitar um som novo como novo. Que concluir desses fatos? Guillaume, citando observações análogas desde o final do segundo mês (pág. 33), diz que, “nos cinco primeiros meses, não se registra qualquer aparência de imitação, se excetuarmos os fatos de natureza inteiramente excepcional” (pág. 36), como o seguinte: durante duas semanas, de 0;2 (11) a 0;2 (26), um de seus filhos imita os principais sons que lhe são familiares (gu, pu, re) (pág. 44). Stern assinala um fato análogo aos dois meses, Ferretti aos três meses, dez aos três e quatro meses (pág. 45) etc. Certamente, podemos recusar-nos a chamar imitação à simples excitação da voz pela de outrem, mas a questão que se põe é saber se, como Guillaume parece indicar, há descontinuidade entre essa conduta e a imitação propriamente dita, ou se existe uma relativa continuidade. Na explicação baseada nos mecanismos de transferência, que foi aquela que esse autor primeiro cogitou, é legítimo admitir a descontinuidade. Mas se a imitação prolonga, sem mais, a assimilação reprodutora, limitando-se a desenvolver sempre mais o elemento de acomodação inerente às reações circulares, o contágio vocal é, efetivamente, o início da imitação fônica: pelo menos, parece-nos que todos os intermediários se apresentam entre os fatos precedentes e os das fases ulteriores. No que diz respeito agora à visão, certos fatos parecem constituir, do mesmo modo, a partir dessa fase, um princípio de imitação: referimo-nos às condutas por meio das quais a criança prolonga os seus movimentos de acomodação aos deslocamentos do rosto de outrem: Obs. 5 – L., ao 0;1 (26), movimenta espontaneamente a cabeça para um lado e para outro. Ao 0;1 (27), ela olha para o meu rosto quando inclino rapidamente a cabeça da esquerda para a direita: ela reproduz logo esse gesto, três vezes. Recomeço, após uma pausa; ela reproduz também e, coisa a assinalar, reproduz esse movimento com muito maior nitidez quando eu concluí o meu do que durante a percepção. Retomo a experiência nos dias seguintes, e o resultado é constantemente o mesmo. Aos 0;2 (2), em especial, ela prolonga claramente e de cada vez o movimento percebido. Na tarde do mesmo dia, ela comporta-se identicamente a propósito de um movimento diferente: eu baixo e levanto a cabeça (para trás e para a frente, em vez de fazê-lo lateralmente, como antes), e L. segue-me com os olhos enquanto me mexo e move ligeiramente a cabeça; depois, quando paro, ela reproduz o meu movimento, marcando-o com muito maior clareza. Tudo se passa, pois, como se, durante a percepção, ela se limitasse a acomodar os movimentos de seus olhos e de sua cabeça ao movimento percebido e como se, após a percepção, a sua acomodação se prolongasse numa imitação nítida. Mas não se trata de uma pura acomodação perceptivo-motora porque, logo após o fato precedente, L. continua baixando e levantando a cabeça quando eu recomecei abanando-a lateralmente; fica imóvel a olhar para mim, enquanto mexo a cabeça para um lado e para outro e, depois, quando paro, ela balança a cabeça verticalmente.6 Aos 0;2 (16), pelo contrário, L. diferencia nitidamente os dois movimentos. Está nos braços de sua mãe, o tronco direito, e diante de mim. Começo por sacudir a cabeça de cima para baixo e de baixo para cima. L. permanece imóvel durante a percepção, salvo alguns ligeiros movimentos para acompanhar com os olhos os meus próprios deslocamentos. Assim que paro, ela reproduz nitidamente o movimento e no mesmo sentido. Então, abano a cabeça da direita para a esquerda e vice-versa; L. desloca ligeiramente a cabeça durante a percepção e depois, assim que paro, reproduz o meu movimento no sentido indicado. A sua mãe, que a segurava, sentiu nitidamente a diferença dos movimentos na espinha dorsal e nos músculos. As mesmas reações diferenciadas aos 0;2 (20), 0;2 (24) etc. Noto ainda a coisa aos 0;3 (18), 0;3 (30) e no decorrer da fase seguinte. Obs. 6 – As reações de T. pareceram-me mais indecisas no começo, mas definiram-se a partir de 0;3, aproximadamente. Ao 0;1 (30), balanço diante dele a cabeça para a esquerda e a direita, fazendo tá, tá, tá, tá (duas vezes à esquerda e duas vezes à direita). Olha para mim com muita atenção e segue os meus movimentos. Quando termino, ele emite alguns sons, sorridente; depois parece executar alguns movimentos de cabeça que prolongam a acomodação. Mas a coisa é pouco segura, visto que, quando ele cessa de fixar um objeto, executa em geral, de modo próprio, movimentos espontâneos análogos. Tudo o que se pode dizer (e eu retomei a prova nos dias seguintes) é que ele parece abanar mais a cabeça depois que eu balancei a minha. Aos 0;2 (7), a imitação dos movimentos laterais parece mais clara: T. olha para mim, seguindo com os olhos os meus movimentos, depois sorri e, por fim, balança a sua cabeça com muita nitidez. A mesma reação ao 0;2 (23). Aos 0;3 (1), desloco a minha mão horizontalmente diante dos olhos de T.; segue-a com o olhar e depois, quando paro, continua o movimento abanando lateralmente a cabeça. A mesma reação com uma argola de guizos. Aos 0;3 (4), T. está no colo da mãe; conserva-se direito e imóvel. Inclino a cabeça à esquerda e à direita; segue-me com o olhar, com ligeiros movimentos, e depois, quando paro, imita nitidamente. Nos dias seguintes, a reação reproduz- se. A partir de 0;3 (21), em particular, T. abana a cabeça quando abano a minha, ou quando balanço as mãos etc. Em seguida, esse gesto, cada vez mais frequente, converte-se em processo para agir sobre as argolas suspensas do teto do berço (terceira fase). Tal comportamento, especialmente claro em L., é de natureza a fazer-nos compreender o que é a imitação em seus primórdios: o prolongamento da acomodação no seio das reações circulares já em funcionamento, isto é, das atividades complexas de assimilação e acomodação reunidas. O leitor recordará, com efeito, que toda a conduta perceptiva inicial (visual, auditiva etc.) manifestou-se (N. I., cap. II) não como um ato simples, mas como uma atividade assimiladora suscetível de exercício ou de repetição e, por isso mesmo, de reconhecimento e de generalização. A acomodação dos órgãos dos sentidos ao objetivo e dos movimentos desses órgãos aos das coisas não pode constituir, pois, se tudo se passa como acreditamos, um dado primordial e permanece sempre relativo à assimilação do objeto à própria atividade do sujeito.7 É por isso que o sujeito e o objeto começam por ser apenas um, ao ponto de a consciência primitiva não distinguir o que pertence a um e o que provém do outro. Logo, toda a acomodação aos dados exteriores tende a repetir-se, porquanto indiferenciada da própria assimilação reprodutora; e, tão cedo a acomodação ultrapassa o nível do puro reflexo para passar a ter em conta a experiência, essa repetição de todo o ato constitui a reação circular primária. Nas circunstâncias comuns, isto é, quando a atividade do objeto não alimenta, por uma convergência especial, a do sujeito, essa tendência para a repetição manifesta-se, simplesmente, sob a forma de uma necessidade de alimentar a percepção, mas esta cessa com ou pouco depois do desaparecimento do objeto ou do espetáculo percebido.