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Capítulo 1 O que é a filosofia? Vou então lhe contar a história da filosofia. Não toda certamente, mas pelo menos dos seus cinco maiores momentos. Eu lhe darei exemplos de uma ou duas grandes visões do mundo ou como se diz às vezes, de um ou dois sistemas de pensamento ligados a uma época, a fim de que você possa começar a ler sozinho se tiver vontade. Logo de saída, quero também lhe fazer uma promessa: se você se der o trabalho de me acompanhar, saberá de verdade o que é a filosofia. Terá uma ideia bastante precisa para decidir se quer ou não se interessar por ela, lendo por exemplo mais a fundo, um dos grandes pensadores sobre os quais vou lhe falar. Infelizmente — a menos que ao contrário, seja uma coisa boa, uma astúcia da razão para nos obrigar a refletir: a pergunta que deveria ser óbvia: “O que é a filosofia?”, é uma das mais controversas que conheço. A maioria dos filósofos atuais ainda a discute sem conseguir chegar a um acordo. Quando eu estava no final do curso meu professor me garantia que a filosofia se tratava simplesmente de uma formação do espírito crítico e da autonomia, de um método de pensamento rigoroso, de uma arte da reflexão enraizada numa atitude de espanto, de questionamento. Ainda hoje você encontrará essas definições em muitas obras de iniciação. Apesar de todo o respeito que sinto pelo professor penso que tais definições não têm quase nada a ver com a base da questão. Certamente é preferível que em filosofia se reflita. Que se pense nela se possível com rigor e por vezes de modo crítico e interrogativo também. Mas nada disso tem absolutamente nada de específico. Estou certo de que você mesmo conhece inúmeras outras atividades humanas sobre as quais nos interrogamos, sobre as quais tentamos discutir do melhor modo possível, sem que sejamos obrigatoriamente filósofos. Os biólogos e os artistas, os físicos e os romancistas, os matemáticos, os teólogos, os jornalistas e até os políticos refletem ou se interrogam. Nem por isso que eu saiba são filósofos. Uma das principais extravagâncias do período contemporâneo é reduzir a filosofia a uma simples reflexão crítica ou ainda a uma teoria da argumentação. A reflexão e a argumentação são sem dúvida alguma, atividades altamente apreciáveis. É verdade que são mesmo indispensáveis à formação de bons cidadãos, capazes de participar com alguma autonomia da vida da cidade. Mas trata-se aí apenas de meios para outros fins diferentes da filosofia, pois esta não é nem instrumento político nem muleta da moral. Sugiro então que você ultrapasse esse lugar-comum e aceite por agora, uma outra abordagem enquanto não é capaz de ver por si mesmo. A filosofia parte de uma consideração muito simples, mas na qual se encontra latente a interrogação central de toda ela: o ser humano. Diferentemente de Deus, se é que ele existe, o ser humano é mortal ou para falar como os filósofos é um ser finito, limitado no espaço e no tempo. Mas diferentemente dos animais, é o único que tem consciência de seus limites. Ele sabe que vai morrer e que seus próximos, aqueles a quem ama, também vão morrer. Ele não pode portanto, evitar interrogar-se sobre essa situação que a princípio, é inquietante, até mesmo absurda e insuportável. Certamente é por isso que ele se volta de imediato para as religiões que lhe prometem a salvação.