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Onde está meu relógio? Eu acordo geralmente às oito da manhã, coloco a cafeteira para funcionar enquanto tomo banho e escolho a roupa para ir trabalhar. Retorno à cozinha e o café já está a minha espera, assim como o preparo breve de uma torrada com manteiga. Após o desjejum, visto a roupa e termino de me arrumar em menos de dez minutos. No fim estou pronta quinze minutos antes das nove horas, tempo suficiente para chegar ao meu trabalho que é ao lado de minha casa. Tudo cronometrado e observado de perto com meu relógio, um clássico Cartier herdado de minha mãe, prateado com realces em verde, simples, porém extremamente pontual e eficaz. Ela resolveu me presentear em meu aniversário de dezoito anos, isso já tem algum tempo, mas o relógio se tornou um companheiro ao longo de muitas temporadas. Fico muito feliz em poder usar algo que um dia foi dela. Eu sou estilista, tenho meu próprio ateliê em Paris já faz vinte e dois anos, costumo receber minhas clientes com hora marcada, sou especialista em alta costura. Comigo, as moças da alta sociedade encontram seus finos tecidos, modernos cortes e costura exemplares. Adoro pontualidade e em meu ateliê nós sempre buscamos levar o horário com muita seriedade. Apenas quatro pessoas trabalham diariamente comigo: duas costureiras escolhidas com muita precisão, uma responsável pela limpeza, e a recepcionista e auxiliar geral. Nós somos um time e tanto, temos agenda cheia pelos próximos seis meses e trabalhamos arduamente. Comigo o compromisso é levado com muita destreza. Hoje consigo ter algumas folgas por ano de no máximo vinte dias; costumo viajar para os desfiles de alta costura pelo mundo; adoro participar e renovar as ideias. Daqui a uma semana estarei embarcando para Milão onde o primeiro evento de alta costura do ano acontece. Os preparativos já começam com o preparo da mala: tenho que estar deslumbrante todos os dias, e como temos uma intervalo grande entre o cliente de duas da tarde e o de seis horas, decido experimentar algumas confecções que eu mesma desenhei, e com a ajuda de minhas costureiras conseguimos tornar realidade, dois vestidos e um blazer que ficam esplêndidos. - Parabéns, meninas, nós conseguimos um ótimo resultado. Conosco, o trabalho é sempre prazeroso, não é mesmo? Eles iram adorar nossas criações, já prevejo uma enxurrada de novas clientes. O que acham? – Parabenizo e pergunto às costureiras. - Sim, madame! A senhora está magnífica com os vestidos e o blazer deu o toque final que as peças precisavam. Tu estás linda. – responde Monique (minha costureira mais antiga). - Com certeza, nós formamos uma excelente equipe. Madame Julie, podíamos fazer o terceiro vestido, acredito que temos tempo para fazê-lo. O que acha? – responde Anna (a mais nova costureira). - Se acham que tem condições de fazer, vamos ao trabalho! – respondo às meninas. Naquele dia fico muito feliz e retorno para casa cansada, mas com um sentimento de realização muito bom. No dia seguinte toda a rotina se repete, e vai sendo assim até o penúltimo dia que antecede a viagem quando o terceiro vestido fica pronto e vou ao ateliê fazer a prova antes de eu terminar os últimos detalhes da viagem. Provo o vestido que é o mais bonito de todos, um azul escuro deslumbrante, brilhoso e muito adequado ao meu manequim. Eu não consigo acreditar que estava vestindo algo tão bonito. Nós começamos a admirar no espelho enorme que eu possuo na loja o quão bonito era aquele vestido. Resolvo tirar várias fotos e peço para que todas apareçam, afinal é um trabalho em equipe. Senhorita Alice (recepcionista) fica tímida, mas insisto para que apareça nas fotos, enquanto Dona Lina fica toda emocionada por ter sido chamada. O dia termina muito bem, tudo está perfeitamente encaminhado. - Garanto-lhes que farei muito sucesso nos desfiles com este vestido, nosso ateliê vai ficar mais famoso e todas nós seremos recompensadas, ouviram meninas? – digo toda feliz para minhas funcionárias. Volto para casa, ajusto os últimos detalhes e vou dormir mais cedo, pois estava cansada. Na manhã seguinte acordo com o telefone tocando às onze da manhã, inacreditável, eu nunca acordara tão tarde assim. Quando atendo era somente a moça do telemarketing; ainda levantei para atender isso. O voo estava marcado para as sete da noite e o caminho da minha casa até o aeroporto durava cerca de quarenta minutos, ou seja, tinha que sair de casa com antecedência. Após acordar tarde, vou até a cozinha e preparo um café reforçado para conseguir mais energia para o dia. Estava com um pressentimento ruim, mas decido ignorar. Levo o dia normalmente, quando estou lendo o jornal e de repente recebo outro telefonema: era a companhia de táxi perguntando se o motorista poderia sair para me buscar daqui a duas horas. Como assim, duas horas? Como o tempo passou tão depressa? Vou ao banheiro e começo a tomar um banho rapidamente. Ao começar a fechar minhas malas num susto me dou conta: onde está o meu relógio? Entro em choque, não consigo raciocinar, não faço ideia de onde ele está. Procuro na casa toda e nada. Eu começo a entrar em desespero. Nego-me a viajar sem o meu precioso relógio. Ligo para o ateliê na esperança de ter deixado por lá, mas ninguém atende, pois, as meninas também não iriam trabalhar naquele dia. Resolvo ir até lá rapidamente, e como o dia não estava favorável, o sapato que calçava machucava muito o pé (não lembrava desse detalhe) e chego com muita dificuldade. Começo pela entrada e também não avisto nada, nem sinal do relógio. De repente a porta se abre, a Dona Lina tinha chegado para limpar o ateliê, ela gostava de trocar as segundas-feiras pelo sábado à tarde (menos movimentado). Faço uma rápida explicação, e começamos a busca pelo relógio sem sucesso. Quando decido retornar para casa, escuto um grito de dentro do provador. - Madame, madame!!! Achei! Não é este o seu relógio? – grita Dona Lina. - Sim, sim, sim! Onde o achou? – pergunto. - Logo ali no fundo daquele tapete. Deve ter caído ontem na prova do vestido azul! – responde Lina. Agradeço muito a ajuda de Dona Lina e vou correndo para casa. Por sorte tinha sapatos mais confortáveis no ateliê. Ao chegar à portaria do meu prédio, o taxista já está a minha espera e, como num passe de mágica, ao colocar o relógio em meu pulso tudo começa a se encaixar em seu devido tempo. Chego com folga no aeroporto, o voo está no horário, e prossigo com minha viagem. Pode parecer superstição, mas, o meu relógio, esse eu não perco nunca mais!